pt

As Origens Geológicas de São Nicolau

A ilha de São Nicolau é um excelente exemplo de como forças geológicas poderosas moldam a Terra. Localizada no arquipélago de Cabo Verde, a ilha apresenta um relevo acidentado e uma forma característica em "T". As suas montanhas, vales e formações rochosas revelam uma longa história vulcânica que começou há milhões de anos.


Formação Geológica e Idade


São Nicolau é uma ilha oceânica formada inteiramente por atividade vulcânica associada a um hotspot no Oceano Atlântico. Em comparação com as ilhas orientais de Cabo Verde (Sal, Boa Vista e Maio), que são mais antigas e mais erodidas, São Nicolau possui uma idade geológica intermédia a relativamente jovem.

Os cientistas identificaram quatro fases principais na formação da ilha:

  • Fase 1 (mais de 6,2–5,7 milhões de anos):
    As rochas vulcânicas mais antigas encontram-se na parte oriental da ilha. Estas incluem brechas hialoclásticas marinhas, indicando que a atividade vulcânica começou debaixo de água antes de emergir à superfície.

  • Fase 2 (4,7–2,6 milhões de anos):
    Este foi o período de maior atividade vulcânica. Grandes volumes de lava foram emitidos, formando a maior parte da ilha.

  • Fase 3 (1,7–1 milhão de anos):
    A atividade vulcânica continuou, acrescentando novas camadas de lava e aumentando o tamanho da ilha.

  • Fase 4 (menos de 100 mil anos):
    A fase mais recente, com rochas vulcânicas muito jovens, mostrando que o vulcanismo em São Nicolau é geologicamente recente.

Um aspeto interessante da origem de São Nicolau é que a ilha atual resultou provavelmente da união de duas ilhas anteriormente separadas — uma ilha oriental e outra ocidental. Erupções vulcânicas posteriores, especialmente a formação do Morro Brás (com menos de 3,5 milhões de anos), ligaram estas duas massas de terra.

Vestígios Vulcânicos e Impacto na Paisagem


A paisagem de São Nicolau é fortemente marcada pelo seu passado vulcânico, com montanhas íngremes, vales profundos e estruturas vulcânicas bem preservadas.

  • Monte Gordo:
    Com 1.312 metros de altitude, é o ponto mais elevado da ilha. Trata-se de um maciço vulcânico relativamente recente (Plio-Pleistocénico), formado por cones piroclásticos e pequenos derrames de lava. Apresenta uma depressão a noroeste semelhante a uma cratera.

  • Deltas de Lava:
    Na parte oriental da ilha, os derrames de lava atingiram o oceano e formaram deltas de lava, como os de Terra Chã e Carriçal.

  • Carbeirinho:
    Considerado uma das "Sete Maravilhas de Cabo Verde", o Carbeirinho apresenta formações geológicas espetaculares de calcarenitos e materiais piroclásticos. A ação do vento e do mar esculpiu estas rochas em formas onduladas e coloridas.


  • Cones de Escórias e Caldeiras:
    Existem numerosos cones de escórias bem conservados, sobretudo nas zonas da Praia Branca, Monte Bissau e Morro Alto. Algumas estruturas são identificadas como caldeiras, como a Caldeira da Preguiça e o Manjolo Grande.

O que são  Cones de Escórias?  

Cones de cinzas/piroclastos são pequenas formações vulcânicas em forma de montículo cónico, construídas pela acumulação de fragmentos soltos de lava (cinzas, lapilli, bombas) expelidos durante erupções vulcânicas (geralmente do tipo estromboliano) em torno de uma chaminé central, formando uma cratera em forma de taça no topo. 

Principais Tipos de Rochas


A diversidade de rochas de São Nicolau reflete a sua formação em várias fases:

  • Basaltos:
    A maior parte da ilha é coberta por rochas basálticas. Estas são rochas primitivas, alcalinas e ricas em magnésio, variando entre nefelinitos e picrobasaltos.

  • Materiais Piroclásticos:
    Incluem brechas, lapilli (conhecido localmente como bagacina), tufos e escórias. Estes materiais são especialmente abundantes na região do Monte Gordo e na extremidade noroeste da ilha.

  • Rochas Ácidas (Fonólitos e Traquitos):
    Na zona central, especialmente nos arredores de Ribeira Brava, o Complexo da Vila apresenta enxames de filões constituídos por rochas mais claras, como traquitos e fonólitos, que cortam as rochas basálticas mais escuras.

  • Rochas Sedimentares:
    Uma característica única de São Nicolau é a presença de rochas sedimentares marinhas, incluindo calcários fossilíferos, encontrados até cerca de 40 metros acima do nível do mar em áreas como Baixo Rocha e Carriçal. Estes depósitos indicam que a ilha sofreu um levantamento vertical significativo nos últimos 6 milhões de anos.

Morfologia da Ilha de São Nicolau


Enquadramento Geral

A morfologia da ilha de São Nicolau reflete uma grande complexidade geológica, resultante da sua origem vulcânica e de uma longa história marcada por erupções sucessivas, erosão intensa e movimentos verticais da crosta terrestre. A configuração atual da ilha, frequentemente comparada à forma de um "T" ou ao contorno do continente africano, é o resultado da união de dois antigos maciços vulcânicos que, ao longo do tempo, foram ligados por episódios eruptivos posteriores.

Configuração Geral e Relevo

São Nicolau apresenta um relevo vigoroso e muito acidentado, dominado por uma crista montanhosa central e por falésias abruptas ao longo da costa. A ilha encontra-se dividida em duas grandes unidades morfológicas: um corpo principal orientado no sentido Norte–Sul e um prolongamento oriental, em forma de "cauda", orientado Oeste–Este. 

O relevo é caracterizado por declives acentuados, ravinas profundas e desfiladeiros escavados pela ação contínua da erosão hídrica. Em torno de grande parte da ilha desenvolvem-se plataformas costeiras conhecidas localmente como achadas, formadas por derrames de lava basáltica e pela deposição de materiais transportados pela água. O ponto mais elevado da ilha é o Monte Gordo, com 1.312 metros de altitude, situado na zona central, precisamente na área de contacto entre os dois antigos maciços vulcânicos.


O que são achadas ?

As achadas são plataformas planas junto à costa de São Nicolau, formadas por antigas correntes de lava que solidificaram e materiais que deslizaram das montanhas. Contornam quase toda a ilha e criam áreas relativamente niveladas num território muito montanhoso. 

São importantes porque permitem a construção de habitações, facilitam a circulação costeira e algumas são usadas para agricultura, funcionando como terraços naturais entre o mar e as montanhas íngremes.