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Cabo Verde Assimetrias Regionais

Assimetrias Regionais em Cabo Verde: Reduzindo a Divisão entre Ilhas


Cabo Verde, um arquipélago de dez ilhas vulcânicas ao largo da costa oeste de África, alcançou progressos notáveis desde a independência em 1975. Com uma população de aproximadamente 524.877 habitantes em 2024, o país passou de uma das nações mais pobres de África para uma economia de renda média, impulsionada principalmente pelo turismo, remessas e ajuda externa. No entanto, este desenvolvimento é desigual, marcado por fortes assimetrias regionais que concentram riqueza, serviços e oportunidades em poucas ilhas, deixando outras para trás. Estas disparidades, enraizadas na geografia, história e foco económico, representam desafios significativos para um crescimento equitativo.


 o desequilíbrio que concentra oportunidades em apenas algumas ilhas:

  • Concentração Populacional: Cerca de 72% da população reside em apenas duas ilhas: Santiago e São Vicente. Esta concentração pressiona os serviços destas ilhas e esvazia outras regiões.

  • Disparidade de Riqueza: O PIB per capita em ilhas como a Boa Vista — fortemente impulsionada pelo turismo de massas — chega a ser 2,5 vezes superior ao de regiões menos desenvolvidas, como Santiago Norte. Esta diferença colossal ilustra as profundas desigualdades de rendimento e produtividade entre concelhos.

  • Monopólio de Oportunidades: A oferta de ensino superior concentra-se quase exclusivamente em Santiago e São Vicente, detendo praticamente 100% desta capacidade. O mesmo se verifica com os cuidados de saúde especializados. Isto obriga os jovens das ilhas com menos serviços a migrar, perpetuando o ciclo de despovoamento e limitando as oportunidades de ascensão social nas regiões periféricas.

Concentração Populacional: A Divisão Urbana-Rural entre Ilhas


Um dos sinais mais visíveis de assimetria é a distribuição desigual da população pelas ilhas. Segundo o censo de 2021, Santiago, onde se localiza a capital Praia, alberga cerca de 269.370 residentes, representando aproximadamente 50% da população total. São Vicente segue com 74.016 pessoas, ou cerca de 14%. Juntas, estas duas ilhas concentram cerca de 64% dos habitantes de Cabo Verde, embora algumas estimativas sugiram que este número chegue a 72% quando se considera a aglomeração urbana e os padrões de migração. Em contraste, ilhas menores como Brava e Maio têm populações inferiores a 6.000 habitantes, enfrentando tendências de despovoamento nas áreas rurais.

Esta concentração agrava as pressões urbanas em Santiago e São Vicente, incluindo escassez de habitação e sobrecarga de infraestruturas, enquanto as ilhas remotas enfrentam escassez de mão de obra e envelhecimento populacional. A migração interna de ilhas menos desenvolvidas para estes centros urbanos amplia ainda mais a disparidade, à medida que os jovens procuram melhores oportunidades.

Disparidades Económicas: Crescimento Impulsionado pelo Turismo vs. Estagnação Rural


A economia de Cabo Verde tem crescido de forma constante, com um PIB per capita de 4.851 dólares em 2023, um aumento em relação aos 4.323 dólares de 2022. Contudo, este valor nacional mascara variações significativas entre ilhas. A Boa Vista, um ponto turístico com praias intocadas e resorts, apresenta um PIB per capita aproximadamente 2,5 vezes superior ao de Santiago Norte, uma região mais agrária e menos acessível. O turismo representa 25% do PIB nacional, mas os seus benefícios concentram-se principalmente em ilhas como Sal, Boa Vista e partes de Santiago, onde aeroportos internacionais e hotéis geram empregos e receitas.

Em contrapartida, ilhas como Santo Antão e Fogo dependem da agricultura, pesca e comércio em pequena escala, que são vulneráveis a secas e mudanças climáticas. A contribuição desigual de cada ilha para a economia nacional evidencia estas assimetrias: Santiago e São Vicente geram a maior parte dos serviços não turísticos, enquanto outras ilhas contribuem minimamente. As taxas de pobreza refletem isso, com a pobreza extrema em 14,4% a nível nacional em 2024, mas mais elevada nos municípios rurais das ilhas menos desenvolvidas.

Acesso a Serviços: Lacunas na Educação e Saúde


Os serviços essenciais são outra área de desigualdade pronunciada. Quase 100% das instituições de ensino superior estão localizadas em Santiago e São Vicente, incluindo a Universidade de Cabo Verde e universidades privadas, deixando os residentes de outras ilhas com acesso limitado à educação terciária. Embora as taxas de alfabetização tenham melhorado, alcançando 90,8% para adultos, as assimetrias rurais-urbanas resultam em menores taxas de matrícula e conclusão em áreas remotas.

A saúde segue um padrão semelhante. Instalações médicas especializadas, como o Hospital Agostinho Neto em Praia (Santiago) e o Hospital Baptista de Sousa em Mindelo (São Vicente), oferecem os melhores cuidados, incluindo tratamentos avançados indisponíveis em outros locais. As ilhas menores dispõem de clínicas básicas, mas os pacientes frequentemente precisam viajar de ferry ou avião para condições graves, incorrendo em custos elevados e atrasos. A taxa de mortalidade infantil é de cerca de 15 mortes por 1.000 nascimentos a nível nacional, mas as disparidades de acesso contribuem para piores resultados em regiões isoladas.

Causas e Consequências das Assimetrias


Estas desigualdades decorrem da geografia de Cabo Verde: ilhas dispersas com diferentes níveis de fertilidade, disponibilidade de água e conectividade. Fatores históricos, como o foco colonial em Santiago como centro administrativo, perpetuaram a centralização. As políticas económicas modernas, que priorizam o turismo, amplificaram o crescimento nas ilhas turísticas, negligenciando outras.

As consequências são multifacetadas. O despovoamento rural leva ao encerramento de escolas e ao declínio de serviços, criando um ciclo vicioso. As áreas urbanas enfrentam superlotação, degradação ambiental e problemas sociais, como o desemprego jovem. A nível nacional, isso dificulta o desenvolvimento inclusivo e aumenta a vulnerabilidade a choques, como observado durante a pandemia de COVID-19, quando as ilhas dependentes do turismo sofreram mais.

Politicas do Governo

O Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável 2022-2026 (PEDS II) operacionaliza o Programa do Governo, é o instrumento do Estado para impulsionar mudanças e acelerar o progresso  

Esforços Governamentais e Perspetivas Futuras


O governo reconhece estes desafios e delineou estratégias no Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável 2022–2026 (PEDS II) para promover um crescimento equilibrado. As iniciativas incluem investimentos em transporte inter-ilhas, descentralização de serviços e incentivos ao empreendedorismo rural. Cabo Verde pretende erradicar a pobreza extrema até 2026, com foco nos municípios vulneráveis. Parceiros internacionais, como o Banco Mundial, apoiam projetos para energia renovável, conectividade digital e expansão da educação para reduzir as disparidades.

Embora os progressos sejam evidentes — como a melhoria das taxas de alfabetização e indicadores de saúde — esforços contínuos são necessários para enfrentar o isolamento e promover a diversificação económica. Ao fomentar a equidade regional, Cabo Verde pode aproveitar todo o seu potencial, garantindo que todas as ilhas contribuam para e beneficiem da prosperidade nacional.

Em resumo, as assimetrias regionais em Cabo Verde destacam as complexidades do desenvolvimento em estados insulares pequenos. Com políticas direcionadas e apoio internacional, o país pode avançar para um futuro mais equilibrado, onde as oportunidades não sejam ditadas pela geografia.