
Cabo Verde Diáspora: Laços Pessoais e Recursos Económicos
A Diáspora: Laços Pessoais e Recursos Económicos
Uma População Transnacional
Cabo Verde destaca-se por possuir uma população transnacional significativa, com estimativas indicando que o número de cabo-verdianos residentes no exterior pode ser tão numeroso quanto a população residente. Esta diáspora está presente em diversos países, sendo particularmente significativa em Portugal, Estados Unidos, França e Países Baixos.
Razões Históricas para a Emigração
A migração cabo-verdiana tem raízes profundas na história do país, marcada por fatores ambientais, económicos e sociais:
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Secas e crises agrícolas – Desde o século XIX, Cabo Verde sofreu severas secas que devastaram a agricultura e causaram fome, empurrando milhares de pessoas a procurar sobrevivência no exterior.
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Dependência econômica limitada – A economia insular, baseada sobretudo na agricultura de subsistência, pescas e, posteriormente, no setor informal, oferecia poucas oportunidades de emprego e crescimento económico.
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Vínculos coloniais – Durante o período colonial português, a migração para Portugal era facilitada por laços administrativos, educacionais e militares.
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Urbanização e crise ambiental – Nas décadas de 1950 a 1980, combinou-se o crescimento populacional com escassez de recursos, estimulando novas ondas de migração para a América do Norte e Europa.
Principais Ondas de Migração
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Século XIX – início do XX: Emigração principalmente para São Tomé e Príncipe e Brasil, ligada à procura de trabalho em plantações e portos.
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Décadas de 1950–1970: Destino principal Portugal e Estados Unidos, com migração motivada pela fome, pobreza e instabilidade política.
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Décadas de 1980–1990: Migração qualificada para França, Holanda e Luxemburgo, associada a oportunidades educacionais e profissionais.
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Século XXI: Diáspora consolidada e diversificada, com fluxo contínuo de remessas e ligações transnacionais, inclusive na área digital e cultural.
Remessas: Pilar da Economia Nacional
As remessas enviadas pelos emigrantes cabo-verdianos desempenham um papel crucial na economia do país. Em 2023, representaram aproximadamente 12% do PIB, uma ligeira diminuição em relação aos 13% registados em 2022. Este valor coloca Cabo Verde entre os países mais dependentes de remessas, comparável a economias como Moldávia e Guiné-Bissau.
Em termos de montante, as remessas em divisas atingiram cerca de 5.624 milhões de escudos cabo-verdianos em 2023, financiando consumo, educação, saúde e pequenos investimentos locais. Esse apoio direto às famílias contribui também para a estabilidade macroeconómica, especialmente em períodos de crise económica ou ambiental.
Distribuição Geográfica das Remessas
As ilhas de Santiago, São Vicente e Fogo recebem a maior parte das remessas, cerca de 80% do total, refletindo padrões históricos de migração e redes familiares estabelecidas no exterior.
Tendências e Perspectivas Futuras
Apesar de uma ligeira diminuição nas remessas em relação ao ano anterior, observa-se crescimento em transferências provenientes de países como Estados Unidos, Portugal e França, com crescimentos de 32%, 29% e 20%, respetivamente. Essa tendência evidencia a resiliência da diáspora e o seu papel contínuo no desenvolvimento socioeconómico de Cabo Verde.