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Cabo Verde : Energia

 Energia: Dependência de Combustíveis Fósseis e Avanços em Energias Renováveis


Dependência de Combustíveis Fósseis

Cabo Verde enfrenta uma dependência significativa de combustíveis fósseis para a geração de eletricidade. Em 2022, cerca de 84% da eletricidade gerada no país provinha de fontes fósseis, como petróleo e gás natural. Essa dependência resulta em vulnerabilidades econômicas, especialmente em períodos de volatilidade nos preços internacionais do petróleo, impactando diretamente a balança comercial e a estabilidade econômica do país.


Avanços em Energias Renováveis

Nos últimos anos, Cabo Verde tem investido em fontes de energia renovável para diversificar sua matriz energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Em 2022, as energias renováveis representaram aproximadamente 16% da produção total de eletricidade, com destaque para:

  • Energia Eólica: Cerca de 14% da produção elétrica, colocando o país entre os líderes mundiais em termos de produção de eletricidade a partir da energia eólica.

  • Energia Solar: Aproximadamente 2% da produção elétrica, com potencial significativo para expansão devido à alta incidência solar nas ilhas.


Metas para o Futuro

O governo de Cabo Verde estabeleceu metas ambiciosas para aumentar a participação das energias renováveis na matriz energética nacional:

  • 2026: Atingir 30% de participação de energias renováveis na matriz elétrica.

  • 2030: Alcançar 50% de participação de energias renováveis.

  • 2040: Buscar uma matriz energética próxima de 100% renovável, com foco em fontes como solar, eólica e biomassa.

Essas metas visam não apenas reduzir a dependência de combustíveis fósseis, mas também promover a sustentabilidade ambiental e a segurança energética do país.


Desafios e Oportunidades

Apesar dos avanços, Cabo Verde enfrenta desafios significativos, como:

  • Capacidade de Armazenamento: A necessidade de desenvolver soluções de armazenamento de energia para lidar com a intermitência das fontes renováveis.

  • Infraestrutura: Investimentos em redes elétricas inteligentes e infraestrutura de distribuição para integrar eficientemente as energias renováveis.

  • Financiamento: Mobilização de recursos financeiros para projetos de energia renovável, incluindo parcerias público-privadas e apoio internacional.

No entanto, o país também possui oportunidades, como:

  • Recursos Naturais: Potencial para expansão da energia solar e eólica, aproveitando as condições climáticas favoráveis.

  • Apoio Internacional: Parcerias com organizações internacionais e países desenvolvidos para transferência de tecnologia e financiamento de projetos.

  • Desenvolvimento Sustentável: Potencial para criar empregos verdes e promover o desenvolvimento econômico sustentável por meio da energia renovável.

Consumo de Energia nas Ilhas de Sal e Boa Vista


Ilha do Sal

A ilha do Sal é um dos principais destinos turísticos de Cabo Verde, com destaque para a cidade de Santa Maria. O consumo de energia elétrica na ilha é elevado, especialmente devido à atividade turística intensa. Estima-se que o setor de turismo represente cerca de 51% do consumo total de energia na ilha .

Além disso, o consumo de água também é significativo. Os turistas utilizam, em média, 900 litros de água por dia, cinco vezes mais do que os residentes locais. Essa água é majoritariamente proveniente de processos de dessalinização, que são altamente dependentes de energia elétrica 


Ilha da Boa Vista

A Boa Vista, outra ilha turística de destaque, também apresenta um consumo elevado de energia devido ao setor turístico em expansão. Embora dados específicos sobre o consumo de energia na Boa Vista sejam limitados, é razoável supor que, devido ao crescimento do turismo, o consumo de energia na ilha esteja aumentando proporcionalmente.

Evolução das Fontes de Energia 


Ilha do Sal

A ilha do Sal tem se destacado na implementação de energias renováveis. Em 2022, mais de 25% da energia consumida na ilha provinha de fontes renováveis, como solar fotovoltaica e sistemas "on-grid" e "off-grid". Além disso, em 2025, está prevista a inauguração de uma nova central elétrica na Palmeira, que duplicará a capacidade de produção de eletricidade da ilha, melhorando a qualidade e a confiabilidade do serviço, especialmente para o setor turístico aler-energia.org.

Ilha da Boa Vista

Na Boa Vista, está em andamento a instalação de uma planta solar fotovoltaica com capacidade de 5 MW, a ser operada pela empresa Gamma Solutions . Este projeto faz parte dos esforços para aumentar a participação das energias renováveis na matriz energética da ilha e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

 Consumo de Água na Ilha do Sal e Dessalinização


Alta Demanda Hídrica

A Ilha do Sal, um dos destinos turísticos mais importantes de Cabo Verde, enfrenta uma demanda de água extremamente elevada devido à presença de hotéis, resorts e outras infraestruturas turísticas. Cada turista consome, em média, 900 litros de água por dia, aproximadamente cinco vezes mais do que um residente local, cujo consumo gira em torno de 180 litros diários. Essa diferença significativa evidencia a pressão exercida pelo turismo sobre os recursos hídricos da ilha.

Escassez de Água Doce e Dependência da Água do Mar

Os recursos de água doce na Ilha do Sal são insuficientes para atender à demanda da população e do turismo. Não existem aquíferos ou rios que possam suprir as necessidades locais, tornando o uso da água do mar, através da dessalinização, indispensável. Sem este recurso, seria impossível manter a oferta de água potável para a população residente e os turistas.


Processos de Dessalinização

Para tornar a água do mar potável, a ilha utiliza principalmente dois processos de dessalinização:

  1. Osmose Reversa (Reverse Osmosis – RO):
    A água do mar é forçada a passar por membranas semipermeáveis que removem sais e impurezas. Este processo exige alta pressão, fornecida por bombas elétricas potentes, resultando em alto consumo de energia elétrica.

  2. Destilação Multi-Efeito (Multi-Effect Distillation – MED):
    A água do mar é aquecida em vários estágios, evaporando e condensando para produzir água potável. Esse método consome quantidade significativa de energia térmica, geralmente gerada por eletricidade ou combustíveis fósseis.


Origem da Energia Utilizada

A dessalinização na Ilha do Sal depende de energia elétrica, que provém principalmente de:

  • Combustíveis fósseis importados (petróleo e gás), que ainda fornecem a maior parte da eletricidade consumida, especialmente para garantir operação contínua das plantas de dessalinização.

  • Energias renováveis, que têm crescido significativamente:

    • Energia eólica: turbinas instaladas geram parte da eletricidade usada localmente.

    • Energia solar fotovoltaica: painéis solares contribuem para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, embora a produção seja intermitente e dependa da luz solar.

Apesar do crescimento das energias renováveis, a operação contínua ainda depende fortemente de combustíveis fósseis, principalmente à noite ou em períodos de baixa produção solar ou eólica.


Impactos Econômicos e Ambientais

A dependência de combustíveis fósseis para a dessalinização gera custos elevados, refletindo-se no preço da água para hotéis, resorts e residências. Além disso, aumenta a pegada de carbono da ilha. Projetos recentes de energias renováveis e armazenamento de energia estão sendo implementados, mas desafios como continuidade operacional e integração eficiente ainda existem.

resumo:

A Ilha do Sal só consegue atender à demanda hídrica atual utilizando água do mar, e o processo de dessalinização depende fortemente de energia elétrica, proveniente majoritariamente de combustíveis fósseis, com crescente contribuição de fontes renováveis como solar e eólica. A combinação de alto consumo turístico, escassez de água doce e dependência energética evidencia a necessidade de investimentos contínuos em eficiência, energias renováveis e sustentabilidade para garantir o abastecimento futuro.

Desafios e Oportunidades


Desafios

  • Alta demanda energética: O crescimento do turismo nas ilhas aumenta a demanda por energia elétrica e água, colocando pressão sobre os recursos disponíveis.

  • Dependência de combustíveis fósseis: Apesar dos avanços em energias renováveis, ainda há uma dependência significativa de combustíveis fósseis para a geração de energia elétrica.

  • Gestão de recursos hídricos: A necessidade de dessalinização de água para consumo humano e turístico é energeticamente intensiva e representa um desafio adicional.

Oportunidades

  • Expansão das energias renováveis: Projetos como a planta solar na Boa Vista e a nova central elétrica na Palmeira oferecem oportunidades para aumentar a participação das energias renováveis na matriz energética.

  • Eficiência energética: Investimentos em tecnologias de eficiência energética podem ajudar a reduzir o consumo de energia e os custos associados.

  • Turismo sustentável: O desenvolvimento de práticas turísticas sustentáveis pode contribuir para a redução do impacto ambiental e promover um crescimento equilibrado.

Politicas do Governo

O Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável 2022-2026 (PEDS II) operacionaliza o Programa do Governo, é o instrumento do Estado para impulsionar mudanças e acelerar o progresso  

Cabo Verde está a desenhar uma das mais ambiciosas transições energéticas na região, transformando-se de uma economia dependente de combustíveis fósseis para um modelo de produção segura, sustentável e inclusiva. O plano estratégico do Governo, focado no Programa Nacional para a Sustentabilidade Energética (PNSE), é claro: alcançar a descarbonização da economia até 2050 e garantir o acesso universal à energia.

Acesso Universal e Inclusão Social em Destaque

Cabo Verde já alcançou progressos notáveis no acesso à energia, aproximando-se rapidamente da meta do ODS 7 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) de acesso total:

  • Acesso Generalizado: Cerca de 89,5% dos agregados familiares têm acesso a eletricidade da rede pública. A meta é alcançar os 100% de acesso bem antes de 2030.

  • Tarifa Social: O programa da Tarifa Social de energia elétrica beneficia hoje cerca de 16 mil famílias pobres. O objetivo é que, até 2026, pelo menos 90% das famílias pobres beneficiem desta tarifa.

  • Cozinha Limpa: A grande maioria da população (78,5%) utiliza o gás como principal fonte para cozinhar, e a meta é que 92% da população tenha acesso a combustíveis e tecnologias limpas para cocção.


Aceleração das Renováveis e Armazenamento Estratégico

A chave para a segurança energética é a diversificação e a integração massiva de fontes renováveis e a capacidade de as armazenar, resolvendo o desafio da intermitência.

  • Crescimento das Renováveis: A produção de energias renováveis já atingiu 19,6% da produção total em 2021. O país ambiciona que, até 2026, pelo menos 35% da eletricidade produzida seja de fonte renovável.

  • Novas Capacidades: Estão em desenvolvimento cerca de 40 MW de nova capacidade solar e eólica de Produtores Independentes.

  • Forte Aposta no Armazenamento: Para garantir a estabilidade da rede, o investimento em armazenamento é prioritário. Um primeiro MW de baterias de lítio já está em funcionamento no Sal, e estão previstos mais concursos para S. Vicente e Boa Vista. O projeto estruturante da Central de Bombagem Hídrica de Santiago (20 MW/160MWh) está a ser estruturado para entrar em funcionamento em 2026.


Mobilidade Elétrica e Eficiência Operacional

A transição energética alarga-se ao setor dos transportes e à melhoria da gestão do sistema.

  • Revolução Elétrica: O número de veículos elétricos (EVs) em circulação tem crescido, e o Governo está a instalar 44 postos de carregamento públicos e a atribuir incentivos para a aquisição de EVs. O objetivo é que, até 2026, um quarto (1/4) do contingente das novas aquisições da frota nacional seja de veículos elétricos.

  • Combate às Perdas: É imperativo enfrentar o desafio da eficiência, combatendo o elevado nível de perdas e melhorando a eficiência operacional. A meta é reduzir as perdas no setor elétrico para um máximo de 17% até 2026.

  • Hidrogénio e Gás: O país está a avançar com estudos de prospecção para o potencial de Hidrogénio Verde. Entretanto, a integração de Gás Natural está a ser considerada como uma opção de transição, nomeadamente para o mercado de Bunkering (abastecimento de navios).


Reformas Estruturais e Visão de Futuro

O cenário de subida dos preços globais de combustíveis exige decisões assertivas, levando a reformas profundas no mercado energético.

  • Reforma da ELECTRA: A empresa será privatizada, dividida em duas sociedades (produção e distribuição), e a estrutura organizacional do setor elétrico será reformada, com a criação da figura do Operador Nacional do Sistema. Estas medidas reforçam o papel do Estado como parceiro, promotor e regulador de um mercado sustentável.

  • Investimento Estratégico: A transição energética é vista como um catalisador económico, promovendo a criação de empregos e o desenvolvimento de serviços ligados à eficiência energética e à microprodução renovável (autoconsumo) em edifícios públicos e privados.

  • Resultados em 2026: Em apenas três anos, o País ambiciona ter reduzido a dependência energética em pelo menos 12% e ter universalizado o acesso à eletricidade, solidificando as bases para um futuro de energia segura e totalmente sustentável.