
Cabo Verde - mercado de trabalho
O mercado de trabalho em Cabo Verde reflete as dinâmicas de uma economia insular em desenvolvimento, marcada por desafios como a alta informalidade, a dependência do setor terciário (principalmente turismo e comércio) e a vulnerabilidade a choques externos, como a pandemia de COVID-19. Apesar de progressos recentes, com a taxa de desemprego atingindo o valor mais baixo desde a independência em 1975 – 8% em 2024 –, persistem desigualdades, especialmente entre jovens e mulheres. A inclusão social emerge como pilar fundamental para promover o emprego digno, reduzir a pobreza extrema (meta de erradicação até 2026) e fomentar a transição da informalidade para a formalidade. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Governo destacam a necessidade de políticas integradas que combinem formação profissional, proteção social e empreendedorismo.
Estrutura do Mercado de Trabalho
O mercado de trabalho cabo-verdiano é caracterizado por uma elevada taxa de informalidade e uma forte concentração de empregos no setor público e privado, com o terciário dominando a absorção de mão de obra. Em 2024, a população empregada totalizou 198.914 indivíduos, um aumento de 4,4% em relação a 2023, elevando a taxa de emprego para 53,6% da população com 15 ou mais anos. O setor empresarial privado absorve 47% dos trabalhadores, seguido pelos trabalhadores por conta própria (19,8%) e pela administração pública (18%), que continua a ser um empregador chave, representando cerca de 17-18% dos postos formais.
A informalidade permanece um desafio estrutural: em 2024, 94.561 empregados (47,5% do total) operavam na economia informal, uma ligeira redução face aos 48,7% de 2023 e aos 53,8% de 2022. Esses trabalhadores, majoritariamente por conta de outrem (58%) ou própria (34,9%), carecem de proteção social, férias pagas e descanso semanal remunerado. O setor terciário, responsável por 70% dos empregos, inclui comércio (16,6% dos trabalhadores), construção e alojamento/restauração, impulsionados pelo turismo nas ilhas de Sal e Boa Vista, onde as taxas de atividade atingem 78,6% e 77,2%, respetivamente – bem acima da média nacional de 58,3%.
A disparidade geográfica é notável: ilhas turísticas como Sal e Boa Vista registam taxas de emprego de 65,1% e 64,6%, enquanto concelhos rurais em Santiago, como São Lourenço dos Órgãos (17,7% de desemprego), enfrentam maiores dificuldades. Por sexo, as mulheres representam 49% da população ativa (97.562 em 2024), mas enfrentam maior inatividade (48,1% vs. 35,2% nos homens) e informalidade (40,4% dos informais).

Desemprego Jovem em Cabo Verde
O desemprego jovem continua a ser um dos maiores entraves à coesão social em Cabo Verde, afetando a transição para a vida adulta e perpetuando ciclos de pobreza. Em 2019, a taxa de emprego entre jovens de 15-24 anos era de apenas 22,4%, refletindo baixa inserção no mercado de trabalho. Essa situação melhorou ligeiramente, mas persiste: em 2024, a taxa de emprego nessa faixa etária subiu para 25,4%, enquanto o desemprego jovem caiu para 20,1% – metade dos 41% registados em 2016, mas ainda elevado face à média nacional de 8%.
O Inquérito Multi-objetivo Contínuo (IMC) de 2024 estimou que 41.158 jovens de 15-35 anos estavam sem emprego e fora do sistema de ensino ou formação, representando 23,8% dessa faixa etária – uma redução face aos 26,4% de 2023 e 29,2% de 2022. No segundo trimestre de 2024, o desemprego entre 15-24 anos foi de 22,1%, com maior incidência entre mulheres (23,9% vs. 22,2% nos homens). Os jovens inativos (36,3% da população inativa total) são majoritariamente estudantes, mas a falta de qualificação e oportunidades agrava o "NEET" (Not in Employment, Education or Training).
Fatores como a sazonalidade do turismo e a limitada diversificação econômica contribuem para essa vulnerabilidade. Políticas recentes, como a gratuitidade da formação profissional para famílias nos grupos 3 e 4 do Cadastro Social Único, visam mitigar isso, com foco em estágios e empreendedorismo via "Banco Jovem & Mulher".

Inclusão Social e Políticas de Mitigação
A inclusão social em Cabo Verde é ancorada na Estratégia Nacional de Erradicação da Pobreza Extrema até 2026, que integra políticas de emprego digno, proteção social e formalização da economia informal. O Rendimento Social de Inclusão e o Cadastro Social Único beneficiam mais de 150.000 pessoas (87% mulheres), promovendo inclusão produtiva via formação e microcrédito. Em 2024, o Governo lançou o Programa de Aceleração da Transição da Economia Informal à Formal, visando duplicar empresas ativas até 2026 e elevar o emprego privado para 51%.
Medidas específicas incluem o Acelerador Global de Emprego da ONU, que reforça políticas para mulheres e vulneráveis, e incentivos fiscais pro-empreendedores. A subutilização do trabalho caiu para 28,4% em 2024 (de 33,6% em 2023), e a taxa de subemprego para 9,3%. No entanto, desafios persistem: o setor informal contribui com 13,3% do PIB, mas mulheres recebem 40% menos que homens nessa economia.