Ilha de Boavista - Os melhores Pontos Turísticos

Boa Vista: Onde o Deserto Abraça o Oceano – Os Meus Pontos Turísticos Favoritos

Por Linda Cardoso

Sabes, sempre que alguém me pede para descrever a Boa Vista, eu hesito um pouco. Não porque não saiba o que dizer, mas porque é difícil colocar em palavras a sensação de imensidão que aquela ilha nos traz. Para mim, habituada à vibração intensa de Luanda, aterrar na Boa Vista é como premir um botão de "pausa" no mundo. Lass mich dir erzählen... esta não é apenas uma ilha de praia; é um pedaço do Saara que decidiu, caprichosamente, repousar no meio do Atlântico. Se estás a pensar visitar, deixa-me guiar-te não por uma lista, mas pelas sensações e lugares que me roubaram o coração.

O Abraço das Dunas: Deserto de Viana e Praia de Chaves

A primeira paragem obrigatória, e talvez a que mais me emocionou, é o Deserto de Viana. Imagina só: estás numa ilha, mas de repente, sentes-te no Norte de África. A areia branca e fina que vês ali viajou milhares de quilómetros, trazida pelo vento diretamente do continente africano,. É um silêncio que se ouve, sabes? Caminhar por aquelas dunas, intercaladas por acácias e tamareiras solitárias, é quase uma experiência espiritual,. Eu fui lá num passeio de moto-quatro, mas confesso que desliguei o motor só para sentir a brisa e ver as sombras das nuvens a correrem pela areia.

E já que falamos em areia, tenho de te falar da Praia de Chaves. Para mim, é a paisagem mais dramática da ilha. As dunas ali não param na orla; elas literalmente mergulham no oceano,. Lembro-me de caminhar por ali e dar de caras com a chaminé da antiga fábrica de cerâmica, uma ruína que se ergue no meio da areia como um monumento à história industrial da ilha, resistindo ao tempo e ao vento,. É um cenário de uma beleza melancólica incrível, perfeito para veres o pôr-do-sol. Ah, e se fores aventureira, as dunas de Chaves e da vizinha Reserva Natural do Morro de Areia são perfeitas para fazer sandboard ou simplesmente rebolar até à praia como uma criança,.

O Fantasma de Aço: O Naufrágio do Cabo Santa Maria

Seguindo para o norte, pela Costa da Boa Esperança, encontras um dos postais mais icónicos e misteriosos de Cabo Verde: o naufrágio do Cabo Santa Maria. É uma visão surrealista. A carcaça ferrugenta deste cargueiro espanhol, que encalhou ali em 1968, está a ser lentamente devorada pelo mar azul-turquesa,. O Lino, um guia local que conheci (uma simpatia de pessoa!), contou-me que o navio transportava presentes do governo espanhol para o Brasil e Argentina – carros, bebidas, comida – e que, na altura, a carga acabou por ser uma "dádiva" inesperada para a população da ilha, ajudando muitas famílias em tempos difíceis,. Hoje, é um lembrete da força da natureza, e o caminho até lá, feito em pickup 4x4 através de trilhos de terra, é uma aventura por si só,.

Ach, e sabes o que é curioso? Esta zona norte é também onde encontras pequenas aldeias cheias de alma, como Bofareira. Parei lá na pequena "Mercearia Elvis" para beber uma bebida fresca e conversar com uns senhores que aproveitavam o sol da tarde. É nestes detalhes que se sente a verdadeira morabeza.

As Águas e a Vida: Santa Mónica e a Biodiversidade

Se o teu sonho é ver uma praia que nunca mais acaba, a Praia de Santa Mónica é o teu lugar. São cerca de 18 a 22 quilómetros de areia branca imaculada no sudoeste da ilha,. É tão vasta e isolada que, muitas vezes, a única pegada que vês é a tua. Não há bares de apoio a cada metro, nem espreguiçadeiras alinhadas; és só tu, o vento e o Atlântico. O acesso é difícil, por isso combina com um taxista ou um tour para te levar lá e, quem sabe, parar antes em Povoação Velha – a localidade mais antiga da ilha,. Lá, podes visitar a Capela de Santo António e sentir a história nas ruas pacatas antes de seguires para o mar.

Mas a Boa Vista não é só paisagem; é vida pulsante. Se a tua visita for entre julho e outubro, tens de reservar uma noite para ir à Reserva Natural da Tartaruga (nas praias do sudeste, como Ervatão ou João Barrosa). A ilha é o terceiro maior local do mundo para a desova da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta),. Ver uma daquelas gigantes a subir a praia sob a luz das estrelas é de chorar de emoção. E se fores na primavera, entre fevereiro e maio, as águas enchem-se de baleias-de-bossa,. Eu fiz um passeio de catamarã na Baía de Sal Rei e ver aqueles "gigantes gentis" a saltar na água faz-nos sentir tão pequeninos...

A Capital do Sal: Sal Rei e o Ilhéu

Para terminar, temos de falar de Sal Rei, a capital. É uma cidade tranquila, com uma arquitetura que mistura o colonial português com a cor africana,. Adoro caminhar pela Avenida dos Pescadores e ver os barcos a chegar com peixe fresco. Ali mesmo em frente, na baía, vês o pequeno Ilhéu de Sal Rei com o Forte Duque de Bragança, construído para proteger a ilha dos piratas,. Podes lá ir de barco ou caiaque, e a vista para a cidade é linda.

Se tiveres tempo, visita o Museu dos Náufragos ou a Casa da Cultura para entenderes melhor a alma desta gente resiliente,. E não te esqueças de passar no Mercado Municipal; as senhoras que lá vendem doces de terra e queijo de cabra (uma especialidade local!) são de uma simpatia contagiante,.

Quando fores, leva um casaco leve para a noite (o vento não brinca!) e o coração aberto. A Boa Vista não é uma ilha para se ver à pressa; é para se sentir, grão a grão, onda a onda. Se precisares de alguma dica sobre onde comer a melhor lagosta em Sal Rei, escreve-me! Adoro partilhar estes segredos. ❤️ 🇨🇻

Com carinho, Linda

Mapa das cidades e vilas de Boa Vista

1. Sal Rei
2. Rabil
3. Povoação Velha
4. Curral Velho
5. João Barrosa
6. Bofarreira
7. Cabeco dos Tarafes
8. Espingueira
9. Cabeco dos Tarafes
10. Fundo de Figueiras
11. João Galego

Em redor de Sal Rei

Partindo do pitoresco Cais Velho, que deu origem ao outro nome de Sal Rei, "Porto", ou do cais mais recente, é possível organizar excursões de barco. Estas excursões oferecem a oportunidade de visitar o ilhéu em frente a Sal Rei, bem como destinos como Chave, Santa Mónica, Curral Velho, ou até mesmo um passeio de um dia inteiro à volta da ilha.

Estes passeios de barco oferecem uma forma fantástica de explorar as paisagens planas e costeiras da Boa Vista. Participe em atividades como mergulho livre, mergulho autónomo ou pesca durante estas excursões, permitindo-lhe mergulhar no extraordinário ambiente marinho e no vibrante mundo subaquático. Pratique snorkel no meio de coloridos recifes de coral, mergulhe nas profundezas para descobrir tesouros escondidos ou lance a sua linha nas águas azul-turquesa em busca da pesca do dia. Estas excursões oferecem oportunidades para experienciar a beleza e a vida marinha que prosperam ao longo da cativante costa da Boa Vista.

A Praia da Chave , localizada logo a seguir à Praia da Cruz, foi a primeira a receber estruturas hoteleiras, oferecendo um número significativo de camas para turistas. A crescente oferta de alojamento em Chave já ultrapassa as 5.000 camas. Com o contínuo desenvolvimento de projetos imobiliários em Chave, Morro de Areia e Lacacão-Santa Mónica, este número tende a multiplicar-se.

Na zona norte da ilha, a Praia da Boa Esperança , que se estende para lá do Cabo de Santa Maria , oferece um espetáculo deslumbrante. Apesar de mais exposta aos ventos dominantes do que as praias abrigadas do oeste e do sul, proporciona uma vista impressionante a quem sobe desde o Sal Rei. 

O Parque Natural Norte

Descubra o Parque Natural Norte, a maior área protegida da encantadora ilha da Boa Vista. Abrangendo mais de 16.489 hectares de áreas terrestres e marinhas, este extraordinário parque oferece um santuário deslumbrante para os amantes da natureza. Com um perímetro de 62.272 metros, os limites do espaço marinho dentro do parque foram cuidadosamente definidos, acompanhando a bela linha costeira numa distância de 2 a 4 quilómetros. Aqui, encontrará o deslumbrante Ilhéu de Baluarte e o Ilhéu dos Pássaros, que permanecem Reservas Naturais Integrais, preservando a sua beleza intocada.

O Parque Natural Norte não só abrange todo o quadrante nordeste da ilha , como também inclui uma importante área marinha que se estende ao longo da costa deslumbrante. Esta área protegida estabelece um equilíbrio delicado entre a preservação de valores naturais essenciais, como as áreas de nidificação de tartarugas e os habitats para espécies de aves notáveis, como as aves de rapina e as aves estepárias, e a promoção do desenvolvimento socioeconómico sustentável das comunidades locais através do apoio às atividades tradicionais.

Deixe-se envolver pelas vastas paisagens e pelas diversas características físicas do Parque Natural Norte e em breve descobrirá o seu encanto único. Dentro desta extensa área, encontrará povoações importantes como João Galego, Fundo das Figueiras e Cabeço dos Tarafes, cada uma refletindo a cultura e o património autênticos da ilha. Ao explorar o perímetro do parque, encontrará também as zonas agrícolas mais significativas da Boa Vista, o que reforça ainda mais a sua importância.

Prepare-se para se maravilhar com este refúgio de beleza natural intocada e significado cultural. Capte momentos inesquecíveis neste paraíso protegido – um verdadeiro tesouro na ilha da Boa Vista.

A pitoresca Rabil

Partindo de Sal Rei em direção a sudoeste, percorrendo de preferência a pitoresca estrada que serpenteia entre palmeiras, coqueiros e acácias espalhadas pelas inúmeras dunas, evocando as paisagens do Magrebe, chegará a Rabil. Este percurso oferece um vislumbre da beleza natural da ilha e apresenta as singularidades culturais ao longo do caminho.

Ao aproximar-se de Rabil, passará pelo aeroporto internacional da ilha, que recebe um número crescente de voos, principalmente da Europa. A própria cidade recebeu o nome da fragata, uma ave marinha que, infelizmente, enfrenta o risco de extinção em Cabo Verde. Em Rabil, pode admirar a igreja mais antiga da ilha, a Igreja Paroquial de São Roque, construída em 1801. A sua importância histórica e o seu encanto arquitetónico fazem dela uma visita que vale a pena.

Rabil alberga também um estabelecimento especial conhecido como Fábrica-Escola de Cerâmica, onde os visitantes podem explorar a notável arte da cerâmica. Este artesanato peculiar tem as suas raízes nas tradições africanas e é valorizado pela sua expressão popular. Na Fábrica-Escola de Cerâmica, um dos principais objetivos é preservar esta forma única de artesanato e transmiti-la às gerações futuras.

A visita à fábrica proporciona uma visão fascinante da arte da produção cerâmica. Pode testemunhar o processo em primeira mão, observando os artesãos habilidosos a moldar o barro em desenhos complexos e a aplicar cores vibrantes para criar peças deslumbrantes. Da cerâmica elaborada aos azulejos decorativos, a Fábrica da Escola de Cerâmica exibe a rica herança artística da Boa Vista.

As tartarugas marinhas de Boavista

Na Boa Vista, um plano abrangente de apoio às tartarugas marinhas, sendo a espécie caretta a visitante mais frequente para nidificar, é levado muito a sério. Milhares de novas crias emergem todos os anos, e os esforços de conservação em torno delas envolvem um compromisso colectivo.

As escolas locais participam ativamente nesta iniciativa, colaborando com organizações de proteção ambiental para garantir a preservação dos ovos de tartaruga. As crianças envolvem-se no processo, recolhendo cuidadosamente os ovos e transferindo-os para uma área segura. Os ovos são então marcados e monitorizados de perto até que as pequenas crias se libertem das suas cascas. Algumas semanas depois, estes determinados crias embarcam na sua viagem instintiva em direção ao mar, percorrendo com entusiasmo as praias de areia.

Este trabalho crucial de conservação não só ajuda a proteger a população de tartarugas, como também sensibiliza a geração mais jovem para a importância de salvaguardar os habitats naturais destas extraordinárias criaturas. Proporciona uma experiência de aprendizagem prática, fomentando um sentido de responsabilidade e de cuidado com o meio ambiente nas crianças, que se envolvem ativamente na garantia da sobrevivência destas espécies ameaçadas de extinção.

Os visitantes da Boa Vista podem testemunhar a incrível dedicação e paixão demonstradas pela comunidade local nos seus esforços para proteger as tartarugas marinhas. Guiadas por um profundo respeito pela natureza, estas iniciativas de conservação criam um equilíbrio harmonioso entre o turismo e a preservação dos delicados ecossistemas da ilha.

 Ao longo da costa de Boavista

Continuando, encontrará as encantadoras cidades de Curral Velho e Ervatão . Aqui, a atmosfera cosmopolita pode esperar. Ao longo de uma linha de costa que se estende por dezenas de quilómetros, desenrolam-se praias isoladas e intocadas, transportando os viajantes para momentos de puro prazer e imersão numa natureza que permanece intocada pela intervenção humana – um privilégio cada vez mais raro noutras partes do mundo. A presença de tartarugas marinhas a nidificar no sudeste da ilha é uma prova disso, uma vez que escolhem esta área imaculada para depositar os seus ovos.

Ao explorar o Curral Velho e o Ervatão, descobrirá uma sensação de tranquilidade e serenidade nos seus arredores intocados. Sinta a areia macia sob os seus pés enquanto caminha por praias desertas, respirando o ar fresco do oceano e desfrutando da solidão. A beleza intocada destas praias cria o cenário perfeito para relaxar, proporcionando uma fuga ao stress do dia-a-dia.

A região sudeste da Boa Vista exerce um fascínio especial sobre as tartarugas marinhas. Presenciar o incrível espetáculo destas majestosas criaturas a nidificar nas praias é uma experiência verdadeiramente inesquecível. Ao maravilhar-se com a relação harmoniosa entre a natureza e a vida selvagem, irá desenvolver uma profunda apreciação pela importância de preservar este delicado ecossistema.

Descubra o coração agrícola da Boa Vista

À medida que a sua viagem o leva para o norte e nordeste da ilha, descobrirá as localidades da Boa Vista dedicadas sobretudo à agricultura, um complemento à principal riqueza da ilha: a pesca. Cabeço de Tarafes, Fundo de Figueiras e João Galego são as aldeias onde os habitantes dependem da terra para a sua subsistência. Nestas áreas, a economia local é sustentada pela agricultura, em particular pela criação de cabras, que valeu aos habitantes da Boa Vista a alcunha de "cabrer" devido à sua perícia na criação destes animais. As cabras pastam livremente por toda a ilha e os seus donos identificam-nas marcando as suas orelhas com símbolos distintos.

Quando regressar da região norte, passando pelas barragens recentemente construídas na Ribeira do Norte e no Campo da Serra, reserve um momento para explorar as pitorescas aldeias da Espingueira e da Bofareira. A Espingueira alberga um encantador hotel que oferece um refúgio tranquilo perto da Praia do Derrubado. Bofareira, por outro lado, é conhecida por ter a população mais trabalhadora da ilha. Graças às recentes melhorias nas infraestruturas, incluindo estradas asfaltadas, estas aldeias são agora mais acessíveis, permitindo aos visitantes experienciar o seu encanto único e o espírito trabalhador dos seus habitantes.

Estas comunidades tradicionais oferecem um vislumbre do quotidiano e dos costumes da população local, que depende da agricultura para sustentar o seu modo de vida. Ao interagir com os acolhedores residentes, compreenderá a sua profunda ligação com a terra e o seu compromisso em preservar o seu modo de vida.

O património agrícola da Boa Vista, aliado à sua próspera indústria pesqueira, demonstra a autossuficiência e o engenho da ilha. A harmoniosa combinação de agricultura, pecuária e pesca retrata de forma vívida a diversidade económica da ilha e o espírito resiliente dos seus habitantes.

Ao percorrer estas aldeias, aproveite para apreciar as paisagens idílicas, desde a verdejante envolvente das zonas agrícolas ao charme rústico da costa. As estradas asfaltadas e as infraestruturas melhoradas realçam o compromisso da ilha com o progresso, preservando o seu carácter autêntico.

O Deserto Viana

Entre Rabil e a aldeia vizinha de Estância de Baixo , um pouco a leste, estende-se uma vasta área de dunas imponentes, integradas no corredor de areias movediças de origem biológica que o vento transporta de nordeste para sudoeste. Esta paisagem cativante é conhecida como Deserto de Viana. É um espetáculo inspirador onde os visitantes podem parar para matar a sede ou até mesmo fazer um piquenique enquanto se maravilham com o fascinante fenómeno do transporte de areia através deste corredor, que culmina na magnífica baía da Chave, Morro de Areia, Varandinha e Curralinho.

Na orla destas majestosas dunas, pode contemplar a extraordinária vista das infinitas formações de areia que parecem estender-se até ao horizonte. O Deserto de Viana oferece uma sensação de solidão e grandiosidade, mergulhando os visitantes numa atmosfera de outro mundo, onde o tempo parece parar. Ao percorrer esta extraordinária paisagem, deixe-se cativar pelos padrões e formas mutáveis ​​criados pelo vento e sinta uma profunda ligação com as forças naturais que moldaram este ambiente único ao longo do tempo.

A Ribeira do Rabil, um leito de rio que atravessa esta região, faz parte de uma das maiores bacias hidrográficas de Cabo Verde. Embora a água só corra durante a estação das chuvas, de julho a outubro, a sua presença nestes períodos transforma a paisagem, dando vida ao ambiente árido. À medida que as chuvas reabastecem o rio, surge um ecossistema vibrante, despertando a flora e a fauna que habitam esta zona.

Presenciar o fluxo de água na Ribeira do Rabil é um acontecimento raro e especial, que demonstra a resiliência e a capacidade de adaptação da natureza perante condições tão áridas. Serve como um lembrete do delicado equilíbrio entre escassez e abundância, e da importância da gestão responsável da água para a sustentabilidade dos ecossistemas da ilha.