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São Vicente - Mindelo - cultura, musica & carnaval

Mindelo: Onde a Alma de Cabo Verde Bate ao Ritmo das Ondas


Sabes, sempre que aterro em São Vicente e sinto aquele vento seco, o famoso Harmatão, misturado com a maresia, sinto-me quase em casa, como se estivesse na minha Luanda, mas com um ritmo totalmente diferente. Deixa-me contar-te sobre o Mindelo, porque não é apenas uma cidade; é uma experiência sensorial que te agarra o coração e não larga mais. Se procuras o verdadeiro coração cultural deste arquipélago, é aqui, nesta baía em forma de meia-lua, que o vais encontrar.


São Vicente di Longe

Lembro-me da primeira vez que caminhei pela Rua de Lisboa (agora Rua Libertadores de África). Fiquei fascinada com a energia! Mindelo não é como as outras cidades de Cabo Verde; ela tem uma alma cosmopolita vibrante que nasceu do mar. Imagina só: no século XIX, este era o Porto Grande, onde navios de todo o mundo paravam para abastecer carvão. Os ingleses andavam por aqui — e deixaram marcas, desde a arquitetura até ao hábito do golfe!. Essa mistura de marinheiros, viajantes e comerciantes criou uma sociedade aberta, que a Cesária Évora tão bem descreveu na música "São Vicente di Longe" como um "Brazilim" (um pequeno Brasil).

Sentes isso nas esquinas. Há uma alegria contagiante, uma "morabeza" (hospitalidade) que te faz sentir parte da família em cinco minutos. Outro dia, estava sentada num café na Praça Nova e um senhor, o Sr. Manuel, começou a contar-me histórias dos tempos em que o porto estava cheio de vapores, com uma nostalgia que quase se podia tocar. É essa mistura de história e vivacidade que torna o Mindelo único.

A Banda Sonora da Alma: Morna e Coladeira


Não podes falar de Mindelo sem falar de música. É impossível! A música aqui não é fundo; é vida. Foi nestas ruas, entre o Lombo e o porto, que a lendária Cesária Évora, a nossa "Diva dos Pés Descalços", começou a cantar em bares e hotéis aos 16 anos.

Tens de sentir a diferença entre a Morna e a Coladeira. A Morna... ai, a Morna é aquela dor doce, a "sodade" da partida, o lamento lento que nos faz chorar sem saber porquê,. Já a Coladeira, que nasceu aqui mesmo em São Vicente na década de 1930, é pura alegria, ritmo acelerado para dançar agarradinho, muitas vezes com letras de crítica social e sátira.

Ah, e sabes o que é incrível? Numa noite qualquer, podes entrar num sítio como a Casa Café Mindelo ou o Jazzy Bird e encontrar música ao vivo de uma qualidade que te deixa de boca aberta. Lembro-me de uma noite em que ouvi um violonista que tocava com tanta paixão que parecia que as cordas eram uma extensão da alma dele. E, claro, se fores fã da Cize, tens de passar pelo Núcleo Museológico Cesária Évora; a entrada custa cerca de 500 escudos (uns 5 euros) e vale cada cêntimo para ver os vestidos e a vida simples que ela levava.

O Berço da Intelectualidade: Claridade e Resistência


Mas Mindelo não é só festa; é também cérebro e resistência. Foi aqui, em 1936, que nasceu o movimento Claridade. Imagina um grupo de intelectuais — Baltasar Lopes, Manuel Lopes e Jorge Barbosa — a reunirem-se para dizer: "Nós somos cabo-verdianos, temos a nossa própria identidade!". Eles queriam "fincar os pés na terra" e mostrar a realidade das ilhas, longe dos cânones portugueses,.

Isso faz-me pensar tanto na nossa geração de pensadores em Angola... essa vontade de gritar quem somos através das palavras. É emocionante passar pelo antigo Liceu Gil Eanes (hoje Escola Jorge Barbosa ou, em parte, a Uni-CV), onde estudaram figuras como Amílcar Cabral e o presidente Pedro Pires,. Sentir que ali se formou a consciência nacional dá-me arrepios.

Arte Viva: O CNAD


E se gostas de ver a tradição a transformar-se em futuro, tens de visitar o CNAD (Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design). Fica ali na ponta norte da Praça Nova. O edifício é impossível de ignorar! A fachada é coberta por tampas de barris coloridos, uma homenagem à história do comércio e da reciclagem criativa da ilha.

Lá dentro, encontras desde a tecelagem tradicional (que é muito forte aqui) até arte contemporânea que desafia o olhar. É um espaço de diálogo visual incrível. A entrada ronda os 500 escudos para turistas, mas às vezes têm exposições gratuitas ou eventos no pátio. É o tipo de lugar onde podes passar uma tarde inteira só a absorver a criatividade local.

Vem sentir esta magia!

Mindelo é intenso, é cultural, é uma cidade que não pede licença para ser autêntica. Se vieres, traz sapatos confortáveis para caminhar na calçada portuguesa, traz o coração aberto para a morna e, claro, prepara-te para fazer amigos para a vida.

Se quiseres mais dicas sobre onde comer a melhor cachupa ou onde ouvir aquela música que não vem nos guias turísticos, escreve-me! Adoraria ajudar-te a descobrir este meu cantinho amado no meio do Atlântico. 🌍❤️✨

Com carinho, Linda

O Carnaval do Mindelo: Quando São Vicente vira um "Brazilim" no meio do Atlântico



Sabes, há coisas que a gente só entende quando sente a vibração do chão a tremer debaixo dos pés, e o Carnaval do Mindelo é exatamente isso. Deixa-me contar-te, porque não é apenas uma festa; é como se a ilha inteira, que o resto do ano vive aquela calma da "morabeza", de repente explodisse em cor e ritmo. Eu, que venho da terra do Semba, confesso que fiquei de boca aberta na minha primeira visita.


Muito mais que uma festa: é Identidade

Lembro-me de estar na Rua de Lisboa (a malta local chama-lhe o "sambódromo" deles) e sentir uma energia que me arrepiou. Dizem, e com razão, que São Vicente é um "Brazilim" — um pequeno Brasil —, uma expressão eternizada pela nossa querida Cesária Évora numa das suas canções,. Mas, sabes, é injusto dizer que é só uma cópia do Rio de Janeiro. É algo muito mais profundo.

A história deste Carnaval é fascinante! Começou com o Entrudo português, aquela brincadeira de atirar água e farinha, mas depois misturou-se com a elegância inglesa (sim, os ingleses que controlavam o carvão no Porto Grande deixaram a sua marca até aqui!) e, claro, com a alma africana e a influência brasileira que chegava nos navios,,. O resultado? Uma festa que é sofisticada e popular ao mesmo tempo.


O Grito dos Mandingas e o Brilho das Plumas

Tens de imaginar o contraste. Por um lado, tens os Mandingas. Ai, amiga, a primeira vez que os vi, o coração falhou uma batida! São grupos de homens e mulheres pintados de preto, com óleo e carvão, a percorrerem as ruas com lanças e saiotes de palha, gritando e dançando ao som de tambores frenéticos. Eles começam a sair aos domingos, logo em janeiro, muito antes do Carnaval oficial.

Falei com um rapaz do grupo de Ribeira Bote, o Carlos, que me explicou que aquilo não é para assustar (embora assuste um bocadinho, confesso!), mas sim uma homenagem à resistência africana, aos guerreiros, e uma forma de afirmar uma identidade que às vezes fica esquecida. É visceral, é terra, é raiz. E no fim do Carnaval, fazem o "enterro" dos Mandingas, atirando caixões ao mar num ritual de despedida que é de chorar de tão intenso.

E depois... depois tens o glamour! Grupos como o Monte Sossego, Cruzeiros do Norte ou Flores do Mindelo trazem carros alegóricos que não devem nada aos do Brasil. Vi costureiras, como a Dona Maria, que passam meses a colar lantejoulas e penas (muitas vindas do Brasil mesmo!), só para aqueles minutos de glória na avenida. É um orgulho que lhes sai pelos olhos.


Uma pitada de nostalgia...

Sabes que isto me fez pensar? É curioso como nós, em África, pegamos em influências de todo o lado — dos colonos portugueses, dos comerciantes ingleses, dos irmãos brasileiros — e transformamos tudo em algo que é nosso. O Carnaval aqui tem essa "sodade" alegre. Não é só folia; é uma afirmação de que, apesar das secas e das dificuldades da vida na ilha, a alegria é um ato de resistência.


Dicas de amiga para não te perderes na folia

Se decidires vir (e tens mesmo de vir!), aponta isto: a festa principal acontece na Terça-feira de Carnaval, mas a magia começa antes. Na segunda-feira à noite, tens o desfile da Escola de Samba Tropical. É imperdível e, como desfilam à noite, as luzes e o brilho dão um toque mágico.

Para veres tudo com conforto, podes tentar comprar um lugar nas bancadas que montam na Rua de Lisboa, mas prepara a carteira e compra com antecedência, porque esgotam num instante! Se preferires sentir o calor do povo (e poupar uns escudos), fica no passeio, mas leva água e sapatos confortáveis, porque vais ficar horas de pé,. E olha, aproveita para provar a comida de rua; há sempre alguém a vender pastéis ou bebidas frescas para aguentar a maratona.


Vem sentir este abraço

A sério, o Mindelo no Carnaval não se explica, vive-se. É ver a cidade, que normalmente é ventosa e tranquila, transformar-se num caldeirão de cultura. Se vieres, avisa-me! Adoraria encontrar-te por lá para dançarmos uma coladeira ou tentarmos uns passos de samba (mesmo que sejamos péssimas, ninguém liga!). ❤️🌍✨

Beijos, Linda